sexta-feira, 28 de março de 2014

Olhos negros



Matar nunca foi um desejo,
Uma vontade nascida da neblina
Ou mesmo escolha, fruto do ensejo
Fui impelido pelos olhos da menina

Disse-me ela, num primeiro olhar:
"Alimenta-me do pesar alheio"
Desde então, tenho vindo a sangrar
Um qualquer que não veja ao espelho

À noite ela sussurra baixinho
Em tons de loucura contida
"Dá-me mais, mais um pouquinho!"
Então saio, e ceifo outra vida

Sua voz não me causa tormento,
Não me amedronta, nem me incomoda
Em verdade, se ausente um tempo
É a saudade quem invade a porta

Fala-me, menina de olhos negros
Diz-me um nome, e dar-te-ei essa alma
Conta-me o teu mais triste segredo
Só o som da tua voz me acalma

Mateus Medina
28/03/2014





sexta-feira, 7 de março de 2014

Sê a viagem



Não me venha contar o que já sei,
Sentar ao meu lado na poltrona
Enquanto a vida nos passa por cima
Traz bagagem, sê a viagem,
Ou então, a porta está aberta

Não olhes a minha tristeza
Com esta vaga indecisão
Tenho monstros embaixo da cama
Que insistentes, me puxam os pés
Agarra as minhas mãos - ou as deles
Só não sejas espectadora

A certeza já pouco me interessa,
Me importa mais o desconhecido
Vem comigo aonde nunca estive,
Me beija de um jeito diferente,
E me diz tudo o que não espero
Ou então, é melhor que não venhas

Mateus Medina
07/03/2014